A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio (MP-RJ) prenderam nesta terça-feira, 22, doze pessoas acusadas de integrar uma quadrilha que sequestrava caminhoneiros para usar seus veículos no transporte de drogas. Outros cinco acusados já estavam presos e passaram a ter mais uma ordem de prisão contra si. Um menor foi apreendido. A quadrilha era baseada em Maricá, na Região Metropolitana do Rio, e era ligada à facção criminosa Comando Vermelho. As vítimas foram torturadas física e psicologicamente. Um dos presos é filho de um vereador de Maricá.
Depois que os motoristas eram rendidos, seus caminhões eram levados por membros da quadrilha até municípios do Mato Grosso do Sul, como Ponta Porã (a quase 1.600 quilômetros de Maricá). Eram usados para pegar drogas que levavam ao complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (Região Metropolitana do Rio). Dali os entorpecentes eram distribuídos para as demais bases da facção criminosa.
Durante os dias em que o caminhão fazia a viagem de ida e volta ao Mato Grosso do Sul, o motorista ficava em cativeiro. Quase não recebia comida e sofria constantes ameaças, conforme o MP-RJ. Segundo o MP-RJ, os criminosos atraiam as vítimas com anúncios em aplicativos usados por motoristas para negociar fretes. Os caminhoneiros iam até Maricá, onde eram rendidos. Eram então levados a um local em uma comunidade, onde eram mantidos em cativeiro e sofriam agressões físicas e psicológicas.
A denúncia se baseou em dois casos. Ambos ocorreram em abril do ano passado. Uma das vítimas foi ao encontro dos criminosos supondo que pegaria uma carga de borracha triturada. Encontrou Wesley Gomes Toledo, o Pitbull, que orientou o motorista a ir até um galpão. Nesse local, outros dois adultos e um adolescente integrantes da quadrilha renderam Santos e o fizeram prisioneiro. O veículo foi até Ponta Porã, onde acabou apreendido pela Polícia Rodoviária Federal. O outro caminhoneiro viveu situação semelhante.
Caminhoneiros eram rendidos, encapuzados e algemados
Segundo a denúncia, "após a consumação dos roubos de seus caminhões e de seus pertences, as vítimas foram encapuzadas e algemadas e levadas para um cativeiro, na favela do Mutirão, ali permanecendo por cinco dias. Nas primeiras 24 horas ficaram sem qualquer alimentação e até mesmo sem um copo d'água. Além disso, eram submetidas a intenso terror psicológico, inclusive com denunciados apontando as armas em suas direções e simulando atirar. Também sofreram agressões físicas, como empurrões e com a coronha das armas".
As vítimas foram obrigadas a manter seus telefones celulares ligados. Após filtragem dos denunciados, tiveram que atender ligações de familiares e amigos, dizendo que estavam viajando com os seus caminhões e que estava tudo em ordem. Foram ainda obrigadas a recusar chamadas de vídeo de familiares.
Quando policiais rodoviários federais de Ponta Porã, ao abordarem as carretas na rodovia, suspeitaram dos motoristas e pediram o número de telefone dos donos dos caminhões, os motoristas foram levados para fora do local onde eram mantidos prisioneiros. Sob mira de fuzis, afirmaram aos policiais que estavam doentes e por isso contrataram outros motoristas para fazer a viagem. Os agentes, porém, desconfiaram da situação a apreenderam os veículos.
Os criminosos contrataram um advogado para liberar os veículos. As duas vítimas só foram libertadas depois que as carretas foram liberadas.
Segundo o MP-RJ, o chefe da quadrilha é Marcos Vinícius Dias Laurindo, apelidado de Lobo Mau. Ele e outras 10 pessoas foram denunciadas por integrar organização criminosa, praticar roubo duplamente qualificado e extorsão também duplamente qualificada.
Quadrilha tinha os seus próprios caminhoneiros
Além da chefia, que elabora os planos e oferece a estrutura necessária para sua execução, segundo o MP-RJ a organização criminosa é composta pelo núcleo operacional, que aborda e rouba as vítimas, além de vigiar o cárcere. Há ainda o núcleo dos caminhoneiros, responsável por dirigir os caminhões roubados para a busca de entorpecentes.
Um dos denunciados e presos é Lucas da Costa, o Esquerdinha, filho do vereador de Maricá Frank Costa (Avante). Segundo a denúncia, ele torturava os motoristas no cativeiro. "Ele atua principalmente na vigilância das vítimas e foi apontado como o elemento que mais as torturou, que mais as ameaçou com coronhadas ou simulando roletas-russas. Realmente aterrorizou essas vítimas", afirmou o promotor Sérgio Luís Pereira. O vereador não foi alvo da operação.
O Estadão procurou representantes dos presos, mas até a publicação desta reportagem ninguém havia se manifestado sobre a denúncia.
Deixe seu comentário